Nesta seção temos um pouco da história do Rock 'n' Roll no Brasil.

        As luzes do cinema vão se apagando, o som do disco da orquestra de Waldomiro Lemcke desaparece aos poucos. As moças saias rodadas, meias de seda - e os casais de namorados são os primeiros a sentar. Depois é a vez dos rapazes: alguns escolhem a fileira atrás das poltronas das moças; outros, mais bidus, atrevem-se a ficar na mesma fila.

        A tela se ilumina: "jornal da Tela apresenta Miss Brasil 1957" Vêm em seguida os trailers dos filmes e finalmente a projeção do Certificado de Polícia Federal, Título: No Balanço dos Horas. Título original: Rock Around the Clock. O pessoal se prepara para ler as legendas, mas, quando surge o som, ninguém quer saber o que significa: "One, two, three o'clock, four o'clock rock", Legal é a voz Bill Haley, e aquele balanço... aquele balanço é bárbaro! O rock' roll acabava de aportar de vez no Brasil.

        Antes do filme, alguns disc-jóqueis haviam tocado Rock Around the Clock por pura gozação, Os americanos eram uns goiabas tentando impingir aquela barulheira, justamente no Brasil, o país do carnaval e do futuro, com nova capital sendo construída em Goiás. Mas Bill Halley e seus Cometas começaram a vender bem. E rádios passaram a programá-los apedido dos ouvintes. As gravadoras também não perderam tempo. Logo as lojas de disco estavam tocando Elvis Presley e Little Richard. Talvez fosse apenas uma moda passageira - como a rumba, o beguine e o swing - mas enquanto durasse poderia dar bons lucros .

        A imprensa também explorava o fenômeno rock'n roll. A Seleções do Reader's Digest insinuava que o rock era a música da juventude transviada, a Revista do Rádio mostrava saxofonistas deitados no palco tocando extasiados e O Cruzeiro trazia fotos dos teatros destruídos pela platéia durante os shows de Elvis Presley. Mas isso era nos Estados Unidos. Aqui tudo continuava calmo. Claro que alguns rapazes começavam a deixar crescer a costeleta e o topete empinado. As calças jeans importadas eram ajustadas para se agarrarem às pernas e mascar chicletes era a máximo - embora muitos pais vissem nisso tudo "coisa de cafajeste" e ameaçassem cortar as mesadas. As garotas, mais recatadas, só ousavam usar rabo-de-cavalo, calças compridas e pulseirinhas de prata com o nome dos namorados.

        Com o êxito dos discos norte-americanos, as gravadoras nacionais começaram a planejar o lançamento de um rock brasileiro, Mas como? Não havia compositores, nem cantores, nem instrumentistas, nada. O jeito foi fabricar aqui mesmo alguns intérpretes "norte-americanos". Os mais famosos foram os Playings - também conhecidos como Titulares do Ritmo, um conjunto de senhores cegos com muita experiência de estúdio, principalmente gravando jingles.

        Os descobridores de talento saíram à caça de intérpretes que pudessem fazer shows e com quem a juventude se identificasse. Mas nada de rebeldes, como os que causavam delírio nos Estados Unidos. Nada disso. As gravadoras queriam rapazes boas-pintas e garotas engraçadinhas, bem comportados como crianças-prodígio. Mário Genari Filho, um calejado homem do disco, apostou em Sérgio Campello, rapaz de Taubaté que preenchia as exigências da gravadora. Mas a prudente Odeon só aceitou que ele gravasse um disco se, no lado B, houvesse um rock cantado por uma menina. Além disso tinha que ser em Inglês: a geraçao coca-cola era muito exigente com o que não fosse Made in USA. Simples: Sérgio virou "Tony"; a menina convidada foi Célia -"Celly" -, quinze anos, irmã do novo cantor; o repertório: Forgive-me e Handful Boy, composições em inglês de Genari Filho.

   O disco não vendeu quase nada. Não era fácil enganar a juventude com acesso aos discos Importados, revistas e filmes. O negócio era partir para o grande público, e daí as letras tinham que ser em português, de preferência versões de músicas que já estivessem nas paradas em gravações norte-  americanas. Carlos Gonzaga gravou a versão de Diana, de Paul Anka, e o disco estourou, tocando em todas as rádios.Todo mundo havia voltado a ouvir rádio. A coqueluche dos radinhos se espalhava pelo Brasil. E através deles o rock'n roll aumentava seu público.

    Pela primeira vez havia programas para os adolescentes:

        Tudo pronto para aparecerem os rockeiros nacionais, Celly Campello lançou Estúpido Cupido, uma versão de Fred Jorge, e o disco alcançou o primeiro lugar nas paradas. Tony, seu irmão, também se deu bem com o Boogie do Bebê. E os sucessos continuaram: Banho de Lua, Lacinho Cor-de-Rosa, Túnel do Amor, Billy, na voz de Celly Campello. a "Rainha do Rock'n Roll". Tony participava das paradas com Pertinho do Meu Coração. Os irmãos Campello tinham aberto o caminho e surgiam novos valores: Demétrius que imitava Elvis Presley e cantava versões de Little Richard; e Sérgio Murilo, o "Rei do Rock", que popularizou-se com Broto Legal e Marcianita: "Quero um broto de Marte que seja sincero, que não se pinte, não fume, não beba, e não saiba sequer o que é rock'n roll".

        Uma característica do rock brasileiro é que ele nunca esteve exclusivamente atrelado aos Estados Unidos como, por exemplo, o rock inglês até a criação do som de Liverpool. As músicas eram versões de rocks norte-americanos, italianos (Marcianita, Banho de Lua) e até alemães (Boggie do Bebê), Quase todas as versões eram de Fred Jorge, que, apesar da idade madura, tinha captado o espírito do rock no Brasil. Não traduzia bem as letras mas mantinha o som original.

        A incipiente TV brasileira abriu suas portas para o rock.Celly e Tony apresentavam o programa Crush em HI-FI e, no Rio, Carlos Imperial conseguia bons índices de audiência com Os Brotos Comandam. Ver os ídolos aju- dou muito a aumentar os símbolos do rock: óculos escuros, cuba-libre na mão, gullivete ou lambreta; as meninas mais atiradas usavam maiô "mamãe-não-deixa", camisetas com gola canoa e calças compridas bem justas com sapato de salto alto. A rua Augusta em São Paulo, e as redondezas do Castelinho, no Rio, eram os pontos de encontro da brotolândia principalmente aos sábados, quando iam comprar discos e tomar um sorvete nos barzinhos, depois da aula.


 

        Mas estava na hora de nascer no Brasil o rock brasileiro. Afinal, todas essas características marca exclusiva dos adolescentes não eram lembradas nas músicas. Foi então que surgiu Rua Augusta, do maestro Hervê Cordovil, reunindo todos os sonhos dos rockeiros. O disco foi um tremendo sucesso, na voz de Ronaldo - Ronnie Cord -, filho do maestro, apesar do desprezo dos rockeiros mais sofisticados que gozavam o refrão meio cafona: "Ai, ai, johnny, ai, ai, Alfredo, Quem é da nossa gangue não tem medo". Outro senhor que compôs rock nessa época foi o conceituado professor Pavão, diretor de um conservatório. Escreveu O que É que Eu Faço do Latim?, que lançou sua filha Mary Pavão, Sérgio Murilo cantava o rock carioca em Sinfonia do Castelinho.
 

        Os músicos de estúdio, arregimentados às pressas no início do rock - como o famosoBoião, saxofonista de Celly Campello -, começavam a ser substituídos por grupos de jovens como os jet Blacks, The Clevers e os Tijucanos do Ritmo, que contavam entre seus integrantes os futuramente famosos Tim Maia e Erasmo Carlos.

        Enfim, o rock brasileiro começava a ter uma linguagem tão própria que logo deixaria de ser chamado de rock. Seria o iê-iê-iê de Roberto Carlos e da turma da jovem Guarda. A primeira geração do rock abandonou a carreira artística. Celly adotou outros tipos de profissão, como Ronnie Cord, que tornou-se agente de viagem. Contudo muitos continuaram na música, mas como produtores de gravadoras: o mais bem - sucedido deles todos é Tony Campello, produtor de Sérgio Reis, um dos cantores sertanejos que mais vendem atualmente e que também começou cantando rock, o badalado Coração de Papel.
 



* Créditos:  Revista Rock a Música do Século XX, nº 3, Editora Rio Gráfica Ltda.
 
 
 

        


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